segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


O amor e outros desastres


Cheguei ofegante faltando poucos segundos para o banco fechar, e ainda tinha aquela bendita porta giratória que me obriga a esvaziar o bolso que possa conter materiais metálicos. Girei a porta numa velocidade que o guarda me olhou com certa cara de espanto e, após entrar, acabei esbarrando em alguém que tinha parado de costas por alguns instantes e segurava uma pasta cheia de papéis.

Pior que isso foi perceber que essa topada gerou alguns sorrisos de quem estava por perto. Mas não de quem eu esbarrei. Por um segundo achei que iria ouvir algum palavrão o que na verdade não aconteceu. O único palavrão mesmo saiu foi da minha cabeça e foi um “puta que pariu” bem alto, e com um som q eu achei que todos tivessem ouvido.

Enquanto os papéis voavam e outras pessoas permaneciam inertes assistindo a cena. Virei-me para ver em quem eu tinha esbarrado e disse:

- Desculpa! Foi mal...

- Ah, tudo bem...tal resposta saiu tão baixa que quase não consegui ouvir.

Mas no momento em que nos vimos, olho no olho, enquanto ainda eu entregava seus papéis, passou um filme inteiro em minha mente.

Uma situação inusitada e tão corriqueira me despertou uma curiosidade enorme porque essa situação permitiu não só me deixar sem graça por causa desse meu lado estabanado de ser como também era um momento que estava me permitindo conhecer alguém novo. Alguém que entraria na minha historia de vida por causa de uma grande esbarrada. Seria esta a grande sacada da vida?

Era o momento para saber seu nome? Era o momento certo para um convite para um cafezinho? Era a pessoa certa no instante incerto?

- Pega o telefone! Pega o telefone!

- hã? – pensei comigo mesmo.

- Nãoooo...pergunta o nome primeiro!

Arghhhh! Estas eram as perguntas que eu mesmo me mandava fazer, mas que vinha tudo desordenado, confuso porque a dose de adrenalina nesta hora era alta e eu não conseguia organizar de forma inteligível.

Resultado: Fiquei parado, olhando, enquanto a outra pessoa organizava seus papéis na pasta e ia saindo. Rodou a porta e foi embora. Eu fiquei olhando até não poder mais enxergá-la diante dos vidros que já nos separavam cheios de propagandas e por se misturar em meio às pessoas que estavam saindo do local.

Dei um suspiro de “perdi”...

Como alguém podia ter mexido tanto comigo, me desconcertado e me feito transbordar de curiosidade para ir mais adiante? Será que a troca de olhares, naquele rápido instante, foram a causa de tamanho interesse? Senti como se a outra parte também tivesse me achado interessante. E por que eu ainda achava que era a pessoa certa?

Ainda fiquei no banco por algumas horas e depois retomei meu dia.

Os dias se passaram, até que num outro dia agitado fui ao encontro de amigos em um bar na cidade. Enquanto o bate papo só aumentava em meio ao burburinho das conversas de outras mesas ao redor um de meus amigos se levantou e foi cumprimentar alguém que acabara de chegar.

Sim, era a mesma pessoa que eu esbarrara no banco há algumas dias. O meu coração saltou, palpitava forte, minhas mãos gelou e meu rosto ficou um pouco vermelho enquanto os dois se aproximavam da mesa.

- Mauro, quero te apresentar....- disse meu amigo enquanto eu me levantava rapidamente da cadeira pra cumprimentar quem chegava.

Sorrimos, apenas isto.

Quem estava na mesa percebeu algo logo de imediato o que me fez imaginar que uma pergunta rondava suas cabeças era: “tem alguma coisa a mais nesses dois”.

A noite melhorou, conversamos por algumas instantes, horas, eu acho. Mas, por mais que eu tivesse percebido interesse mútuo maior era também meu descontentamento em descobrir que todo o interesse que eu mantive desde o fatídico dia no banco ele estava se desmoronando naquele novo momento.

O papo era truncado, as idéias não se complementavam, se distanciavam. Mas continuamos até encontrarmos proximidade em algumas situações de riso o que permitiu diminuir a distância entre nós e sair um beijo meio que reservado.

Depois do beijo, mais alguns dias se passaram e mativemos mais um contato, só que desta vez a sós. Foi um encontro mais íntimo e sozinhos, porém, o suficiente para confirmarmos diferenças que não seriam contornados tão facilmente.

Pois é, a historia parou por aí porque às vezes construímos idéias sobre nós mesmos e de outras pessoas como “ideais”, esquecemos, por menor que seja o instante, das nossas limitações, que possuímos diferenças e que nossa personalidade foi construída pelo que vivemos e que na hora de encontrar o amor para toda a vida isto tem que ser levado em conta.

Sonhar é bom, viver mais ainda. Curtir o momento, então, nem se fala! O que eu aprendi disso tudo foi de continuar sonhando, de me permitir viver esta e outras experiências e, ficar atento a qualquer situação que me torne alguém melhor mesmo que isto gere uma historia de amor e outros desastres.


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